sexta-feira, 1 de maio de 2009

Palavra de Vida - Maio

«Como bons administradores das várias graças de Deus, cada um de vós ponha ao serviço dos outros o dom que recebeu» [1 Pe 4, 10]. (1)

A Edite, cega de nascença, vive, com outras invisuais, numa casa cujo capelão já não pode celebrar a Missa, pois ficou paralisado das pernas. Por esse motivo, foi decidido tirar-se Jesus Eucaristia da casa. A Edite apelou ao bispo, para que O deixassem ficar, pois era a única luz nas trevas em que vivem. Obteve a autorização e também a licença para ser ela mesma a distribuir a Comunhão, às suas colegas e ao capelão.
Desejosa de ser útil aos outros, a Edite conseguiu também ter à sua disposição, durante algumas horas, o tempo de emissão de uma estação particular de rádio. Serve-se dele para oferecer aquilo que tem de melhor: conselhos, pensamentos válidos, esclarecimentos morais. Conforta, com a sua experiência, aqueles que sofrem. A Edite... e poderia contar mais coisas sobre ela. E é cega, mas o sofrimento iluminou-a.
Mas quantos outros exemplos teria para vos contar! O bem existe e não faz barulho. A Edite, no fundo, vive simplesmente como cristã: sabe que cada um de nós recebeu alguns talentos e pode pô-los ao serviço dos outros.
Sim, porque por “talento” ou “dom” (ou “carisma”, como se costuma dizer, usando a palavra grega) não se entende só aquelas graças com que Deus enriquece as pessoas que devem governar a Igreja. Nem sequer são apenas aqueles dons extraordinários que Ele manda directamente a um ou outro fiel, para o bem de todos, quando considera que é necessário remediar, na Igreja, situações excepcionais ou perigos graves, para os quais não são suficientes as instituições eclesiásticas. São exemplos destes a sabedoria, a ciência, o dom dos milagres, falar línguas, o carisma de suscitar uma nova espiritualidade na Igreja e outros ainda.
Mas dons, ou carismas, podem ser qualidades mais simples, que muitas pessoas possuem e que se notam só pelo bem que produzem. O Espírito Santo trabalha. Além disso, também se podem chamar dons ou carismas aos talentos naturais. Portanto, toda a gente é dotada. Também cada um de nós.
E que uso lhes devemos dar? Temos que pensar como fazê-los render. Foram-nos dados, não para nós próprios, mas precisamente para o bem de todos.

«Como bons administradores das várias graças de Deus, cada um de vós ponha ao serviço dos outros o dom que recebeu».

É muito grande a variedade dos dons. Cada um de nós tem o seu e, por isso, tem uma função específica na comunidade. E qual será o caso pessoal de cada um?
Tens algum diploma? Nunca pensaste em pôr à disposição, de quem não sabe ou que não tem meios para estudar, algumas horas semanais de ensinamento?
Tens um coração particularmente generoso? Nunca pensaste em mobilizar forças ainda válidas em favor de gente pobre ou marginalizada, ressuscitando assim, no coração de muitos, o sentido da dignidade do homem?
(...)
Tens dotes particulares para confortar o próximo? Ou para arrumar a casa, para cozinhar, para fazer vestuário útil com pouco dinheiro, ou para trabalhos manuais? Olha ao teu redor e vê quem precisa de ti.
Sinto muita pena quando vejo que há gente que procura e ensina a preencher o “tempo livre”. Nós, cristãos, não temos tempo livre enquanto houver sobre a Terra um doente, um faminto, um prisioneiro, um ignorante, alguém com dúvidas ou triste, um drogado, (...) um órfão, uma viúva...
E não acham que a oração é um dom formidável que podemos utilizar, já que a todo o momento nos podemos dirigir a Deus, presente em toda a parte?
(...)

«Como bons administradores das várias graças de Deus, cada um de vós ponha ao serviço dos outros o dom que recebeu».

Imaginem agora a Igreja em que todos os cristãos, crianças e adultos, fazem tudo o que podem para pôr à disposição dos outros os seus dons?
O amor recíproco adquiriria uma tal consistência, uma tal amplitude e relevo, que (...) poderiam reconhecer, através dele, os discípulos de Cristo.
(...)
E, então, se o resultado era esse, por que motivo não fazemos tudo o que está ao nosso alcance para o conseguir?

Chiara Lubich

1) Palavra de Vida, Janeiro de 1979, publicada integralmente em Essere la Tua Parola. Chiara Lubich e cristiani di tutto il mondo, vol. I, Roma 1980, pp. 157-159.

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