segunda-feira, 1 de junho de 2009

Palavra de Vida - Junho

«Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer» [Jo 15, 5]. (1)

Imaginemos um ramo separado da videira... Já não tem futuro, já não tem qualquer esperança, não tem fecundidade. Só lhe resta secar e ser queimado.
Imaginemos agora a que morte espiritual estamos destinados, como cristãos, se não estivermos unidos a Cristo. É assustador! É a completa esterilidade, mesmo que trabalhemos como mouros de manhã à noite, ou pensemos que estamos a servir a humanidade. Ou mesmo que os amigos nos aplaudam, e os bens terrenos se multipliquem ou façamos sacrifícios incríveis. Tudo isso pode ter um significado para nós, aqui na Terra, mas, para Cristo e para a eternidade, de nada vale. E é essa a vida mais importante.

«Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer».

Como podemos permanecer em Cristo e Cristo permanecer em nós? Como podemos ser um ramo verde e viçoso que faça parte da videira? Antes de mais, é preciso acreditarmos em Cristo. Mas isso não basta. A nossa fé deve ter influência na dimensão concreta da vida. Isto é, temos que viver de acordo com a fé, pondo em prática as palavras de Jesus. Por isso, não podemos desprezar os meios divinos que Cristo nos deixou, através dos quais obtemos ou readquirimos a unidade com Ele, no caso de a termos perdido. Além disso, Cristo não nos considera bem ligados a Ele se não nos esforçarmos por estar inseridos na comunidade eclesial, na nossa Igreja local.

«Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer».

«Quem permanece em Mim e eu nele». Já repararam que Cristo fala da nossa unidade pessoal com Ele, mas também da Sua unidade pessoal connosco? Se estivermos unidos a Ele, Ele estará em nós, no íntimo do nosso coração. Nasce assim uma relação e um colóquio de amor recíproco, uma colaboração entre Jesus e nós, seus discípulos. E as consequências vão ser: dar muito fruto. Precisamente como um ramo bem unido produz cachos saborosos. "Muito fruto", significa que nos será dada uma verdadeira fecundidade apostólica, isto é, uma capacidade de abrir os olhos de muitos às palavras únicas e revolucionárias de Cristo, e estaremos em condições de lhes dar a força para as seguirem. "Muito fruto" significa ainda que saberemos suscitar ou até edificar obras, pequenas ou grandes, para diminuir as mais variadas necessidades do mundo, segundo os talentos que Deus nos der. "Muito fruto" significa "muito", não "pouco". E isso pode querer dizer que saberemos criar na humanidade que nos circunda uma corrente de bondade, de comunhão, de amor recíproco.

«Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer».

Mas "muito fruto" não significa só o bem espiritual e material dos outros. Significa também o nosso, de cada um. O facto de crescermos interiormente, de nos santificarmos pessoalmente, depende também da nossa união com Cristo. Santificarmo-nos. Talvez essa palavra, nos tempos que correm, pareça um anacronismo, uma inutilidade ou uma utopia. Mas não. A nossa época presente vai passar e com ela as opiniões parciais, erradas, contingentes. Permanece a verdade. Há dois mil anos, Paulo, o Apóstolo, dizia claramente que é vontade de Deus para todos os cristãos a santificação. Santa Teresa d'Ávila, doutora da Igreja, tinha a certeza que toda a gente, até qualquer pessoa da rua, podia chegar à mais alta contemplação. O Concílio Vaticano II afirma que todo o povo de Deus é chamado à santidade. São opiniões seguras.
Procuremos então produzir, também na nossa vida, o "muito fruto" da santificação, que só será possível se estivermos unidos a Cristo.

«Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanece em mim e Eu nele, esse dá muito fruto, pois, sem mim, nada podeis fazer».

Repararam que Jesus não nos pede directamente o fruto, mas vê-o como consequência do permanecermos unidos a Ele? Até nos pode acontecer cair no erro em que muitos cristãos se encontram: activismo, activismo, obras, obras para o bem dos outros... sem se ter tempo de verificar se em tudo e para tudo se está unido a Cristo.
É um erro. Pensa-se que se dá fruto, mas não é aquele fruto que Cristo em nós, Cristo connosco, poderia dar. Para dar frutos duradoiros, com um timbre divino, é preciso permanecermos unidos a Cristo. Quanto mais unidos a Cristo estivermos, mais frutos produzimos.
Além disso, o verbo "permanecer", que Jesus usa, mais do que referir-se a alguns momentos em que se produzem frutos, dá a ideia de um estado permanente de fecundidade. Realmente, se conhecermos pessoas que vivem assim, verificamos que elas, talvez só com um simples sorriso, com uma palavra, com o comportamento habitual do dia-a-dia, com a sua atitude perante as várias situações da vida, impressionam de tal forma os outros, que os levam, muitas vezes, a reencontrarem-se com Deus. Foi o que se passou com os santos. Mas não nos devemos desencorajar. Até os cristãos comuns podem dar frutos.
Dou-vos um exemplo. Passa-se em Portugal. Todos sabemos que o mundo estudantil está muito influenciado pela política e há pouco espaço para quem queira tornar-se útil à humanidade, movido por outros motivos.
A Maria do Socorro, acabado o secundário, entrou na universidade. O ambiente é difícil. Muitos dos seus colegas lutam, seguindo a própria ideologia e cada um procura arrastar atrás de si os estudantes que ainda não se pronunciaram.
A Maria sabe bem que caminho seguir, embora não seja fácil de explicar: seguir Jesus e permanecer unida a Ele. Os seus colegas, que não conhecem nada das suas ideias, consideram-na amorfa, sem ideias. Houve momentos em que experimentou o respeito humano, sobretudo ao entrar na igreja. Mas continuou a ir lá, porque sentia que devia permanecer unida a Jesus.
Aproxima-se o Natal. A Maria dá-se conta de que há entre eles alguns que não podem ir a casa, porque são de muito longe e propõe, aos outros colegas, darem uma prenda aos que não iam a casa. Com grande surpresa, todos aceitaram imediatamente. Mais tarde, vieram as eleições e outra grande admiração: foi eleita, precisamente ela, para representante do seu curso. Mas o espanto foi ainda maior quando ouviu dizer: «É lógico que tenhas sido eleita tu, porque és a única que tem uma linha precisa, que sabe aquilo que quer e o que fazer para o realizar». Alguns dos seus colegas interessaram-se pelo seu ideal e querem viver como ela. Foi um bom fruto da perseverança da Maria do Socorro em permanecer unida a Jesus.

Chiara Lubich

1) Palavra de Vida, Fevereiro de 1979, publicada em Essere la Tua Parola. Chiara Lubich e cristiani di tutto il mondo, vol. I, Città Nuova, Roma 1980, pp. 175-178.

Sem comentários:

Enviar um comentário