sábado, 1 de fevereiro de 2014

Palavra de Vida - fevereiro

«Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus» (Mt 5, 8)

Jesus começa a sua pregação com o Sermão da Montanha. Em frente ao lago de Tiberíades, num monte perto de Cafarnaúm, sentado – como costumavam fazer os mestres –, Jesus anuncia às multidões o homem das bem-aventuranças. No Antigo Testamento usava-se muitas vezes a palavra «bem-aventurado», exaltando a pessoa que cumpria, das mais variadas formas, a Palavra do Senhor.
Nas bem-aventuranças de Jesus encontrava-se, em parte, um eco das bem-aventuranças que os discípulos já conheciam. No entanto, era a primeira vez que eles ouviam dizer que os puros de coração – como cantava o Salmo – eram, não só dignos de subir ao monte do Senhor (cf. Sl 24, 4), mas até de poder ver Deus. Qual era, então, essa pureza tão sublime que tinha tanto mérito? Jesus haveria de explicá-lo repetidas vezes durante a sua pregação. Procuremos, por isso, segui-lo, para nos abeirarmos da fonte da verdadeira pureza.
«Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus».
 
Antes de mais nada, para Jesus, há um meio supremo de purificação: «Vós já estais purificados pela Palavra que vos tenho anunciado» (Jo 15, 3). Não são tanto os exercícios rituais que purificam o espírito, mas a sua Palavra. A Palavra de Jesus é diferente das palavras humanas. Nela está presente Cristo, como também – de outro modo – está presente na Eucaristia. Por meio da Palavra, Cristo entra em nós e, se a deixarmos agir, torna-nos livres do pecado e, portanto, puros de coração.
Por conseguinte, a pureza é o resultado da Palavra vivida, fruto de todas aquelas Palavras de Jesus que nos libertam dos chamados “apegos” em que forçosamente caímos se não tivermos o coração fixado em Deus e nos seus ensinamentos. Esses apegos podem ser em relação às coisas, às criaturas, ou a nós mesmos. Mas, se o coração estiver fixado unicamente em Deus, tudo o resto deixa de nos atrair.
Para ter êxito nesta tarefa, pode ser útil repetir a Jesus, a Deus, durante o dia, aquela invocação do Salmo que diz: «És tu, Senhor, o meu único bem!» (cf. Sl 16, 2). Procuremos repeti-lo frequentemente e, sobretudo, quando os vários apegos ameaçarem arrastar o nosso coração para imagens, sentimentos e paixões que possam ofuscar a ideia do bem e tirar-nos a liberdade.
Somos levados a olhar para certos cartazes publicitários, a assistir a certos programas de televisão? Digamos-Lhe: «És tu, Senhor, o meu único bem». Será este o primeiro passo que nos fará sair de nós mesmos, declarando de novo a Deus o nosso amor. E assim vamos adquirindo a pureza.
Sentimos, por vezes, que uma pessoa ou uma atividade se interpõem, como um obstáculo, entre nós e Deus e turvam a nossa relação com Ele? É o momento de Lhe repetir: «És tu, Senhor, o meu único bem». Isto ajudar-nos-á a purificar as nossas intenções e a reencontrar a liberdade interior.
«Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus».
 
A Palavra vivida torna-nos livres e puros porque é amor. É o amor que purifica, com o seu fogo divino, as nossas intenções e todo o nosso espírito, pois, segundo a Bíblia, o «coração» é a morada mais profunda da inteligência e da vontade.
Mas existe um amor que Jesus nos recomenda e que nos permite viver esta bem-aventurança. É o amor recíproco, de quem está pronto a dar a vida pelos outros, seguindo o exemplo de Jesus. Esse amor cria uma corrente, cria uma reciprocidade, uma atmosfera, cuja nota dominante é precisamente a transparência, a pureza, devido à presença de Deus que é o único que pode criar em nós um coração puro (cf. Sl 51, 12). É vivendo o amor recíproco que a Palavra actua com os seus efeitos de purificação e de santificação.
O indivíduo isolado é incapaz de resistir muito tempo às solicitações do mundo. Pelo contrário, no amor recíproco, encontra um ambiente são, capaz de proteger a sua pureza e toda a sua existência cristã autêntica.
«Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus».
 
E eis, então, o fruto desta pureza, sempre reconquistada: pode-se «ver» Deus, isto é, compreender a sua ação na nossa vida e na História; ouvir a sua voz no coração; descobrir a sua presença onde ela se encontra: nos pobres, na Eucaristia, na sua Palavra, na comunhão fraterna, na Igreja.
É um saborear antecipadamente a presença de Deus, que começa já nesta vida, «pois caminhamos pela fé e não pela visão» (2 Cor 5, 7) até ao momento em que O «veremos face a face» (1 Cor 13, 12) por toda a eternidade. 

Chiara Lubich